domingo, 9 de setembro de 2012

Na lembrança


Chegou cansado em seu apartamento.Como de praxe, tirou o paletó ,se jogou em seu sofá e lentamente tirando o seu sapato murmurou:

 _Ah se eu não precisasse de usar sapatos. Meus pés agradeceriam. 

Foram apenas alguns segundos de repouso e foi tomar seu banho. Foi tirando a roupa por etapas. A camisa estirada no sofá, a calça em frente a cômoda do quarto e a cueca, jogada no chão do banheiro. A água caía sobre sua cabeça. Enquanto assoviava canções de B.B.King se lembrou que não havia toalha no banheiro e gritou:

_Meu bem,trás a toalha por favor?

Um breve silêncio tomou conta do lugar ...

_NÃO! - Gritou ele em prantos. Deixou o chuveiro ligado, passou a mão pelo seu corpo e lentamente foi até a área de tanque para se secar. Deitou em sua cama nu e olhando pra ele no criado mudo lá estava ela, linda, por entre uma moldura cor de grafite. Pegou-na e acariciando, mais uma vez as lágrimas caíam lhe pelo rosto. Haviam três meses que ela havia partido mas ele não aceitava. De dentro de uma caixa,tirou uma grande mecha de cabelos que haviam sido cortados antes da segunda sessão de quimioterapia. Guardou novamente e no armário tirou uma calça jeans. A que havia dado a ela como presente de um ano de casados e que ela não havia tido a sorte de usar, pois da data até sua partida foram questões de dias.

Na cozinha mais lembranças o atormentava: lembrou do dia em que estavam fazendo um bolo e por motivos maiores (êxtase, frissom) abandonaram a tarefa. Pegou um copo com leite e tentou tomar, mas um nó em sua garganta impossibilitava de fazer a tarefa. Em sua cabeça algo lhe dizia: "Reaja homem o mundo e a vida são aqui e estão continuando!"  Mas seu coração reclamava: "Por quê meu Deus, será que foi justo tê-la tirado de mim?"  Finalmente conseguiu tomar o leite acompanhado de alguns antidepressivos.

Foi para seu quarto, sentado na cama sintonizou o rádio e por coincidência a música dos Beatles que tocara no dia em que se conheceram estava tocando. E era assim toda noite,só embalado pelas músicas que ele conseguia dormir. E o sono era o único momento que deveras ele se sentia vivo,pois no sonho ele sempre se encontrava com ela mas com olhos abertos a sua alma e seu coração já haviam sido sepultados. Antes de dormir assim como todas as noites pediu:

_Meu Deus, por favor fazei com que eu mais uma vez possa reencontrá-la em meus sonhos.


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